Ele despertou. Ou não, já havia acordado em outros sonhos tantas vezes, que já não sabia o que era real. Ele só sabia que havia tido um sonho... Ou seria um pesadelo? Nunca se sabe... depende do que queremos (e nem sempre se sabe o que queremos, anyway).
Estava perdido, isso era fato. Mas de alguma forma, sentia que devia partir. Arrumou as malas desajeitadamente ,como qualquer outro homem, e seguiu rumo ao banheiro, lavando o rosto numa tentativa de espantar a indisposição que sentia desde seu despertar. Se olhou no espelho, quando o espanto tomou seu rosto: ele parecia mais velho, mais frio; certamente algo acontecera durante seu repouso. Enquanto removia uma barba grande demais para ter crescido durante o sono de uma só noite, o recém-desperto tentava reunir os cacos de sua memória, que parecia haver desaparecido: não sabia onde estava, quem era, se estava sozinho no mundo tanto quanto no quarto cinza em que estava; só lhe restavam meia dúzia de roupas surradas, uns poucos CD's de música, de artistas cujos nomes não lhe vinham à cabeça, e lembranças confusas de um olhar que parecia trespassar-lhe a alma e de um anjo que recorria em seus pensamentos frequentemente, mesmo em outros sonhos dos quais despertara.
Saiu do quarto e rumou para o sofá da sala da casa onde estava, que estava imersa em penumbra; sentou no sofá, e começou a falar com uma voz trêmula que ecoava em sua mente:
-O que houve?
-Você se deixou levar, meu caro. Já era. Você perdeu.
-Eu... perdi? Lutei, ao menos?
-(risos) Você acorda depois de tantos meses e me pergunta se lutou? Volte a dormir. É o que sabes fazer.
-Mas... ainda estou vivo! Ainda há esperança, não?
-Vivo? Seu coração bate, seu diafragma trabalha para que respire, e só. Você não existe, homem. Você simplesmente funciona, como uma máquina.
-Não.
-O quê?
-O anjo... Onde está ele? E de quem é aquele olhar?
-Anjo? Olhar? Es... esqueça. É mais fácil dormir. É sua rotina. Repouse.
-Não... NÃO! Eu não parei de "funcionar". Eu ainda posso lutar. Eu ainda posso procurar pelas pistas que minhas poucas lembranças me deixaram. Eu vou conseguir, ou morrer tentando. Eu posso ter um propósito, e essa é a diferença entre existir e funcionar, não é mesmo?
Acendeu-se uma chama na mente do sonhador, trazendo consigo algumas lembranças e uma sensação que fez com que um jardim florescesse nele. Como se uma falange soasse inúmeras trombetas em uma manifestação de guerra. Como se ele tivesse saído da plateia e subido ao palco. Como se houvesse esperança. Levantou-se, com o fogo da revolta no olhar, e abriu a janela. Sentiu os raios solares rastejarem rapidamente por sua pele, enchendo-o de vida. Automóveis, pessoas, animais. A vida existia, afinal. Não havia tempo para procurar a porta, saltar pela janela se fazia urgente! Se arranhou ao cair da mesma, sentiu dor... e nunca se sentiu tão feliz por isso. Ele era humano. Ele agora existia.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário